Do caos à forma: o nascimento de uma obra

Criar, para mim, é sempre um mergulho no desconhecido. Antes de qualquer forma surgir, existe o vazio. Um espaço silencioso onde tudo é possível, mas nada ainda se revelou. Às vezes, é um caos de pensamentos, de intuições fragmentadas, de sentimentos que ainda não têm nome. E é nesse caos que começa a nascer a semente de uma obra.

A matéria, à primeira vista, é apenas matéria: um pedaço de madeira, um traço de tinta, uma textura crua. Mas há algo invisível que pede para ser escutado. Não é só uma técnica, não é só uma escolha estética, é uma escuta, uma entrega, algo que está além de mim.

O processo nunca é linear. Há momentos em que a criação parece travar, quando o medo de não conseguir dar forma ao que sinto se impõe. Há dias de dúvida, de recomeços, de rasgar, de desfazer para refazer. Mas há também o instante sagrado em que a obra começa a se revelar, como se ela mesma dissesse: "É isso que eu vim ser."

Do caos à forma, o caminho é de transformação. Não só da matéria, mas de mim mesma. Cada casa que crio é uma história de rendição: um convite para confiar no processo, para aceitar que nem tudo está sob o meu controle, para permitir que o invisível encontre morada no visível.

E, no fim, compreendo: não sou eu quem cria a obra. Sou apenas o instrumento, a mão que toca, o ouvido que escuta, o coração que se abre. A criação é um sopro que vem de outro lugar, um presente, uma graça silenciosa que me atravessa.

Que cada casa seja um lembrete de que o caos não é o fim, é o começo!

Que a transformação acontece quando deixamos espaço para o invisível habitar o visível. E que, no fundo, toda obra é um convite para confiar: há beleza no processo, há luz no desconhecido, há propósito até mesmo no silêncio.